quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Projeto conecta arte contemporânea e arqueologia marítima

O vasto acervo subaquático da Baía de Todos os Santos, em Salvador, entra em evidência na cidade por intermédio da arte contemporânea. O ‘sítio naufrágio’ Maraldi* (área onde se encontra naufragado o cargueiro de mesmo nome, no remanso do Farol da Barra) será objeto de uma intervenção artística de Lica Moniz. A artista irá ‘acender’ o naufrágio, no dia 11.11, delimitando o local com luzes projetadas por holofotes estanques instalados nas águas do mar. A intervenção site specific, denominada Projeto  Maraldi, foi contemplada pelo edital Matilde Matos, da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), para criar um diálogo entre a arte contemporânea e os sítios arqueológicos marinhos.

Um dos objetivos do projeto é chamar a atenção para a importância da preservação dos ‘sítios naufrágios’, considerados pelos pesquisadores da área como um acervo oculto, pouco estudado e de grande valor histórico. Para Lica Moniz, tais ‘sítios’ constituem bens culturais de alta relevância enquanto memória, identidade e patrimônio. Outro objetivo é apresentar o mar como espaço passível de ampla investigação tanto pela arte quanto pela ciência. A intervenção, que acontecerá durante quatro horas, será registrada em vídeo para posterior exibição na Galeria Cañizares da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia (EBA/UFBA). O mesmo vídeo permanecerá disponível no blog do projeto: http://projetomaraldi.blogspot.com.

Também no dia 11.11, o pesquisador Gilson Rambelli, autoridade no assunto, irá proferir a palestra Arqueologia de Naufrágios: Luzes sob a Baía de Todos os Santos. Rambelli, que já pesquisou in loco o patrimônio subaquático da região quando residiu em Salvador, é membro do Comitê Técnico do Patrimônio Cultural Subaquático do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS), organização vinculada à UNESCO e dedicada ao estudo de técnicas para proteção, conservação e restauro de sítios naturais. Professor doutor e Coordenador do Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos da Universidade Federal de Sergipe (UFSE), ele defende a arqueologia de baixo impacto (investigação científica dos naufrágios em seu próprio local, inclusive sem extração de material ou intervenções nos navios).

O pesquisador alerta para o fato de que a Baía de Todos os Santos possui um dos acervos subaquáticos mais importantes do país e, ainda assim, nenhuma pesquisa arqueológica sobre esse patrimônio foi realizada até hoje. Ele também falará do caráter transdisciplinar do Projeto Maraldi, concebido e realizado por Lica Moniz.

* Navio a vapor de bandeira inglesa afundado em 1875, atualmente desmantelado, que transportava lã e couro com destino à Bélgica. Teria naufragado em razão de encalhe.

Lica Moniz nasceu em Salvador, em 1958. É graduada em Artes Plásticas pela EBA/UFBA e possui mestrado na área de poéticas visuais contemporâneas. Sua pesquisa, em poéticas líquidas, estabelece relações entre arte e natureza, proporcionando experiências estéticas a partir de imagens fragmentadas do mar. Em 2009, apresentou, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), a exposição Tempo de Fundo, formada por quatro trabalhos - um deles submarino - que levantaram outros questionamentos sobre a interação homem e ambiente marítimo. Lica é nadadora, mergulhadora pela Confederação Mundial de Atividades Subaquáticas (CMAS - registro duas estrelas) e velejadora pela Capitania dos Portos de Salvador.

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